A infecção causada pelo coronavírus, SARS-CoV-2, iniciada na China no final de 2019 foi inicialmente temida por suas graves repercussões respiratórias. Entretanto, desde que se disseminou pelo mundo, ampliou-se o conhecimento de todas as complicações não respiratórias que essa infecção viral pode causar, incluindo alterações endócrinas.
Primeiro, é importante destacar que a obesidade e o diabetes mellitus são doenças de maior risco para quadros mais graves causados pelo coronavírus. Além de estarem associadas a outras patologias de risco, como hipertensão arterial e doenças cardíacas, sabe-se que tanto a obesidade quanto o diabetes podem comprometer a resposta imunológica do organismo, o que também favorece maiores complicações pelo coronavírus.
Além disso, o SARS-CoV-2 pode comprometer funções endócrinas. Diversas internações ocorrem pelo diagnóstico da primeira descompensação diabética associada a infecção pelo coronavírus. Estudos apontam que pode ocorrer lesão direta das células pancreáticas, produtoras de insulina, pelo vírus. O funcionamento da tireoide também pode ser comprometido. Pacientes com doenças graves tem diminuição dos níveis hormonais de T3, T4 e TSH em uma condição conhecida como “síndrome do eutireoideo doente”, mas o vírus pode causar destruição de células tireoidianas, “tireoidite subaguda”, e levar a variações hormonais com fase inicial de hipertireoidismo seguida de hipotireoidismo. O SARS-CoV-2 pode também comprometer a capacidade do organismo de produzir cortisol, o que pode favorecer quadros graves de hipotensão. Pacientes que já tem o diagnóstico de insuficiência adrenal merecem cuidados especiais com a suplementação da dose habitual de corticosteróide durante a infecção, principalmente se febre, náuseas, vômitos e diarreia, além dos quadros mais graves da infecção pelo coronavírus.
Outro aspecto observado em pacientes com infecção grave pelo SARS-CoV2 é a frequente presença de deficiência de vitamina D. A vitamina D tem papel importante na resposta imune do organismo, entretanto, não se demonstrou que a deficiência é a causa dos quadros graves. É possível que tenha sido mais diagnosticada apenas porque ter iniciado no inverno do Hemisfério Norte, período em que existe menor exposição solar para a produção de vitamina D, ou que a deficiência seja apenas uma condição que co-existe com as outras doenças de risco para quadros mais graves de coronavírus, como obesidade, diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares. Níveis muito baixos de vitamina D, menores que 20 ng/mL, merecem ser tratados, mas não se demonstrou que suplementar vitamina D previne ou trata a infeção pelo SARS-CoV-2.
Todos os novos conhecimentos mostram que a infecção pelo coronavírus não é simples e pode ter diversas repercussão no organismo. O melhor que temos a fazer é nos previnir, com isolamento adequado e cuidados de higiene.